segunda-feira, 4 de abril de 2011

SOPROS AFINADOS


Ontem, 3 de abril, no Palácio da Música, ouví dois grupos formados a partir da Banda 16 de Agosto, da prefeitura de Teresina. Fundada em 1968, esta Banda tem sido presença marcante no cenário musical da cidade. Agora surgem pequenos grupos derivados da grande banda, com um repertório mais eclético, flexível, contemplando todos os estilos musicais.
O quarteto de Sax, integrado pelos simpáticos músicos Flaubert- Sax tenor , Jardel-Sax alto, Gustavo-Sax barítono, e Melquezedeque - Sax soprano e clarinete, além do afinadíssimo quinteto de sopro, brindaram o bom público presente com uma música agradável de ouvir.
Em matéria de sopros, nossa Teresina está bem servida. O Maestro Antonio Marmo Linhares, orientador dos grupos, tem feito um excelente trabalho. Aproveito a oportunidade para louvar o empenho incansável do Maestro Rocha Sousa, professor de qualidade, músico competente, que tem sido o grande impulsionador das Bandas de Teresina. Gostaria de ver maior apoio por parte do poder constituído -Governo e Prefeitura- ao trabalho constante desse grande piauense!
Parabéns aos grupos, e bola prá frente! Um dia verei uma Orquestra Sinfônica de verdade, afinada e completa em sua constituição instrumental. Sopros de qualidade? Já os temos!


domingo, 20 de fevereiro de 2011

ROBERT SCHUMANN

Corria o ano de 1959.Tinha meus 13 anos de idade quando aconteceu o Concurso Internacional de piano do Rio de Janeiro. Ainda em Maceió, acompanhei-o pelo rádio (um imenso e sensacional Transglobe a pilha), aconchegado ao lado de minha mãe, grande incentivadora de meus estudos do instrumento. Ficaram-me na memória as participações de Byron Janis e, evidentemente, do grande vencedor, o húngaro Peter Frakl, então com 24 anos. A peça de confronto, obrigatória para todos os participantes, foram os Estudos Sinfônicos, Op.13 de Schumann (1810 - 1856). A magia daqueles momentos permanece intacta no fundo de minh'alma. Sem conhecimento técnico musical suficiente para análise da estrutura formal e outras coisas que saberia muito depois, deixei a música fruir em meu interior, livre de quaisquer amarras, solta dentro da pura emoção ( hoje sei que somente assim se atinge a essência da música!). A interpretação de Peter Frankl foi primorosa, e o delírio do público fez com que Arnaldo Estrela(meu futuro professor) reabrisse o piano que um funcionário do teatro já fechara , para que o pianista executasse extras. Já na década de 70, morando no Rio de Janeiro, tive a oportunidade de ouvir e conhecer de perto Peter Frankl, meu grande ídolo da adolescência. Os Estudos Sinfônicos Op.13 para piano foi dedicado por Schumann a seu amigo inglês William Sterndale Bennett. Escrita em fins de 1834 e apresentada em Viena em 1837, é obra de importancia pianística e musical excepcionais. Schumann, insatisfeito com o título, modificou-o em 1852, chamando-o de " Estudos em forma de variações para piano". O motivo principal com que se inicia a obra (motivo que Schumann julgava ser pobre musicalmente) é do Barão de Fricken, flautista amador, pai de Ernestina, por quem o compositor se apaixonara. Compor uma obra a partir de um tema composto pelo genitor de sua amada era a suprema forma de cortejá-la. A peça se desenvolve em 12 variações livres, românticas, longe do esquema composicional clássico, com um finale brilhante. Há também 5 variações póstumas, que alguns pianistas incluem em suas gravações. Schumann achava que suas variações estavam além da compreensão do público. Em março de 1838, em carta a sua nova e definitiva amada, Clara, grande pianista, escreve: "Você fez bem em não tocar os Estudos Sinfônicos em concerto: eu não os escreví para o grande público e seria absurdo ele aceitar e querer o que não compreende. Se, um dia, o público, delirante, quebrar a cabeça contra as paredes de tanta admiração depois de você os ter tocado, isto será para mim motivo de grande alegria...os compositores, veja você, são cheios de vaidades, mesmo quando não têm razão para tê-las..." Schumann enganou-se. Os Estudos Sinfônicos são hoje uma das mais queridas e ouvidas obras do repertório pianístico !

No link abaixo, ouça o tema principal que deu origem às variações:

domingo, 13 de fevereiro de 2011

NONATO LUIZ: UM VIOLÃO DE SONHOS!

Nonato e Mário Sérgio


Sou suspeito para falar sobre Nonato Luíz. Conheço-o desde a década de 70, em Fortaleza, e passamos inesquecíveis momentos musicais em minha casa, sempre regados a uma boa cachaça.
Em 1977 fomos a Campos de Jordão, durante a realização do Festival de Verão (atualmente em sua 41ª edição) onde, sob a direção de Dr. Hugh Ross e Eleazar de Carvalho e OSESP, fizemos parte do coro que apresentou a 9ª de Beethoven. Na ocasião, conheceu Turíbio Santos. Ouví-o, portanto, centenas de vezes, e participei da elaboração da partitura de uma de suas peças musicais, "La concordanza", em parceria com o grande músico cearense Tarcísio José de Lima.
É difícil falar sobre Nonato Luíz. O violão, ao tocar, passa a ser parte integrante de seu corpo. Um imenso prazer de tocar estampa-se no permanente sorriso que paira em seu rosto, iluminando o ambiente e ouvintes com uma aura que transmite paz, segurança técnica absoluta e uma sonoridade soberba. Cada corda, em Nonato Luiz, tem vida própria. A melodia perpassa entre elas, sempre evidente e clara. Jamais os riquíssimos acordes sufocam-na. A música de Nonato Luiz remete à renascença. Seus temas são repetidos sempre com uma roupajem nova e dinâmica. A forma de construçao musical - A B A - torna-a de fácil assimilação. A sonoridade de seu violão é variada, passando de sons metálicos aos velados sempre de maneira equilibrada e progressiva. Seus incríveis arranjos de nossa MPB e, especialmente, os de temática nordestina, quando evidencia o modalismo medieval além de outras características melódicas próprias de nossa música , são prova incontestável de que sua arte é como sensível antena a captar ecos de um passado longínquo mas ainda fortemente presente na alma de nossa gente.
Ouvir a música de Nonato Luiz é sentir a alegria de viver de um grande músico que faz de seu instrumento o seu principal veículo de comunicação. Ouvir Nonato Luiz é vivenciar emoções profundas e variadas, inesquecíveis em seu conteúdo. É, acima de tudo, aprofundar a crença na grandeza da Arte e da criação humanas.

Confira no link abaixo, um exemplo da arte de Nonato Luiz.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

VOCIFERAR OU CANTAR?

A 1ª Igreja Batista de Teresina promoveu em 13 de novembro de 2010 o seu II Encontro de Coros. Iniciativa extremamente louvável da Igreja e de seu Pr. Gilvan Barbosa. Teresina tem se desenvolvido muito neste setor com vários corais sendo criados em escolas, igrejas e empresas, estimulando a arte vocal e gerando fortes laços de companheirismo e responsabilidade grupal entre seus componentes.
Cantar em grupo é manter a mais absoluta disciplina. Salvo quando há solistas, não há individualismos no canto Coral. Todos devem primar pela perfeita sincronia entre as vozes, atendendo religiosamente às intervenções gestuais e interpretativas do Regente.
Aí, entretanto, está o nó górdio da questão: a preparação insuficiente e inadequada dos regentes, transmitindo aos incautos coralistas toda sorte de defeitos e vícios que transformam uma simples peça musical numa sucessão torturante de desencontros e desencanto. A preparação de um verdadeiro Regente Coral inclui além do domínio completo das linguagens musical e gestual, conhecimento vasto de História Geral, História da Arte, e solidez de saberes sobre estilos, técnica vocal etc. Cultura geral, portanto, é imprescindível para um convincente desempenho musical do Regente e de seu grupo, e essencial para a interpretação correta das músicas.
O Coral Jovem da Igreja Batista de Codó, MA, sob a direção de Francisco Leal foi um horror! Vociferantes, os coristas berravam desordenadamente, concorrendo ente si na desigualdade de intensidades e afinação, com vozes esganiçadas e supremamente desagradáveis. Somente a tolerância de um Deus para perdoar tal descalabro musical. Culpa da ignorância e despreparo completo do sr. regente.
O nível mudou radicalmente quando da apresentação do Madrigal Contraponto e do Coral da Assembléia de Deus , trabalhados e regidos por Jeonai Batista. Rapaz estudioso, bom instrumentista, é um dos felizes herdeiros do competentíssimo trabalho desenvolvido pelo Prof.Dr. Vladimir Silva, quando à frente do magnífico Madrigal da UFPI. Aliás, o Madrigal Contraponto é integrado por remanescentes do coral de Vladimir. Vozes bem colocadas, dinâmica correta, encantou-me ouvir a difícil "Chant des oiseaux" de Clement Jenequin. O Coral Jubilai está em bom caminho. Gostei especialmente da peça "Calma, mansa, serena", em adaptação minha, do excelente grupo Adventista "Arautos do Rei". Muito tem a melhorar o coral da própria Igreja Batista, promotora do evento.
De qualquer modo parabéns pela iniciativa. Que outros encontros aconteçam e que outros Jeonai surjam no cenário da música coral de Teresina, para a satisfação e felicidade dos ouvidos sensíveis...!

domingo, 23 de janeiro de 2011

Mário e Maria

MÁRIO MARROQUIM E A MÚSICA



Em 22 de março de 1996, em suplemento, foi publicado um caderno especial sobre a vida e obra de meu pai, Mário Marroquim, em comemoração ao centenário de seu nascimento, pelo O JORNAL, em Maceió-Al. Sendo músico, fui encarregado de escrever sobre sua atividade nesta área. Esta foi uma das múltiplas faces da vasta cultura de Mário Marroquim que, além da música, envolvia a poesia, arqueologia, antropologia, política, magistério, advocacia, filologia. Autor de "A língua do Nordeste", com prefácio de Gilberto Freire, livro ainda hoje referência para quem estuda os linguajares de nosso país, em muito enriqueceu o estudo do nosso idioma. Eis o artigo que escreví para o jornal:

Ao ouvir a pequena mas belíssima obra musical de Mário Marroquim, torna-se necessário refletir sobre as fronteiras impostas pelos críticos e pelo próprio público, divorciando a música erudita da música popular. Alguns acham que o erudito, a música de elite, deve ser vista e analisada isoladamente, pois suas estruturas formais complexas, fruto intelectual de compositores plenos de gênio, assim o exigem. É música para gostos refinados, treinados e desenvolvidos, bem diferente daquela outra, popular, simples em sua concepção, oriunda das ruas, fácil de assimilar e entender.
Formalmente, são evidentes as diferenças: uma se aprofunda tematicamente, se subdivide em muitos movimentos, utiliza rítmos e andamentos variados; a outra, geralmente monotemática com refrão, prima pela simplicidade. Nem por isso, no entanto, o belo deixa de ser expresso. Ambas traduzem estados de espírito com infinitos matizes, inspiradas em variadíssimas fontes.
Na verdade, há boa e má música, independentemente do do gênero ou época em que foi escrita. É necessário derrubar as barreiras forjadas pelos puristas, a separar os dois tipos de música.
A arte erudita se inspirou largamente nas manifestações populares e folclóricas, cortejando seus rítmos e melodias, dando-lhes roupagens, camuflando-se em suas complexidades. A valsa, por exemplo, um dos pontos fortes da obra de Mário Marroquim, surgiu a partir do "weller", dança camponesa alemã, e do "Leandler", dança tirolesa austríaca, duas manifestações notadamente populares. No entanto, no decorrer do tempo, Berlioz, Mozart, Ravel, Strauss e dezenas de outros compositores introduziram valsas instrumentais em suas obras. A valsa, no princípio dança, evoluiu para peça instrumental e, por fim, poesia e música.
No Brasil, sobretudo no II Império, a modinha, o fado, o tango, a canção, a valsa, o romance, adentraram os salões aristocráticos onde danças e jogos europeus eram cultivados. A concomitante invasão do piano, instrumento celebrizado por Liszt e Chopin, e que passou a ser, ao lado do bandolim, a prenda maior de toda moça educada e fina, tornou possível introduzir em camadas sociais mais altas, gêneros musicais de uso popular.
A música de Mário Marroquim se explica nesse universo. Compôs fados, canções, tangos, valsas, e até uma opereta. Musicou versos seus e de amigos, sempre com aguçada sensibilidade. Advogado e professor, dizia sempre que "neste País, a música não leva ao mercado", numa alusão ao sentido amadorístico que dava às suas atividades musicais. Compôs pouco, mas com profundidade e qualidade. Suas valsas para piano solo, com diversas seções, procedimento formal da época, guardam uma unidade psicológica impressionante. Há sempre uma coerência temática, uma hábil e inspirada condução melódica e harmônica. Música tecnicamente simples, mas repleta de beleza. Para voz, suas valsas se elevam ao lírico e suas frases musicais, lânguidas, sensuais até, casam-se prosodicamente com as intenções do texto, lançando-se para os agudos nos momentos de tensão, aplacando-se suaves, repousando nas calmarias do poema. Na valsa "Jardim Secreto", por exemplo, a melodia ascende quando o texto sugere estar o jardim "aclarado em fulgores tropicais", para ceder aos poucos na afirmação do poeta:"aquí esteve a mais linda das Marias...". Esta adequação da música à letra, raríssima em nosso repertório cantado, popular ou não, encontra em Mário Marroquim um exemplo de correta execução.
Mário Marroquim foi um artista preso à sua época. Não desbravou novos caminhos musicais. Repetiu, com talento e bom gosto, o que o seu tempo propôs. Fez a boa música. Possuidor de uma memória extraordinária, ouví-o, dezenas de vezes, reproduzir ao piano a trilha sonora das "fitas" a que assistira. Melodista fértil, fascinava os amigos improvisando peças inteiras a partir de três notas aleatórias sugeridas por estes.
A Música, sabe-se, não levou Mário Marroquim ao mercado, mas levou-nos a todos, sem excessão, a admirá-lo por sua arte, apenas moldura a contornar suas verdadeiras atividades profissionais, mas que o transportou à condição de grande pessoa humana que foi.

Frederico Marroquim.

Veja nos links abaixo duas valsas de Mário Marroquim.

http://www.youtube.com/watch?v=kojt49vvFTg

http://www.youtube.com/watch?v=_sRyzdgW5V4

sábado, 22 de janeiro de 2011


MEU OUTRO AMOR

Nos anos 80 surgiu Ritinha, minha esposa, mãe de Mário e Maurício, filhos queridos, e que foi (e é...) musa inspiradora de várias canções. Entre elas está Canção para Rita, com letra do saudosíssimo amigo poeta Ramsés Bahury Ramos, cujo teor escrevo à frente:

Muito tempo eu procurei
Um alguém prá chamar de amor.
E hoje eu sei que encontrei
O amor, meu amor é você...

Quanta alegria em meu coração,
Felicidade chegou, e então,
Se um dia eu lhe perder
Morrerei, ai meu Deus, solidão...

Vivo agora feliz
Com a vida que sempre sonhei.
Você é tudo o que eu quiz,
Meu amor, meu bem, meu querubim...

Escutem no link abaixo Canção para Rita, com o Duo Allegro Giusto:


DUO CAMERÍSTICO "ALLEGRO GIUSTO"

O nome do duo foi sugerido (e aceito) por uma grande pianista pernambucana, Andréia da Costa Carvalho, amiga de infancia, primeira namorada e primeiríssimo amor... Após ouvir Caio Michel Cardoso da Silva, violoncelista, participando de um quarteto de cordas em concerto na Casa da Cultura, e em sendo um apaixonado pelo timbre do Cello (que mais se aproxima da voz humana), resolvi convidá-lo para tocar comigo. E formou-se então o Duo Camerístico em 2006, que se apresentou no Teatro João Paulo II, em várias ocasiões no auditório do CEFET (hoje IFPI), além de recitais em Floriano e Picos. Com um repertório rico e variado, sempre agrada a quem o ouve. Apreciem esta peça chamada "Longe", composição minha dedicada ao primeiríssimo amor, composta no Rio de Janeiro em 1971 (há tantos janeiros...), cuja letra postarei em outra oportunidade. Fiquem com a melodia e com nosso Duo...

http://www.youtube.com/watch?v=dz4pXXWo8bo