sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

VOCIFERAR OU CANTAR?

A 1ª Igreja Batista de Teresina promoveu em 13 de novembro de 2010 o seu II Encontro de Coros. Iniciativa extremamente louvável da Igreja e de seu Pr. Gilvan Barbosa. Teresina tem se desenvolvido muito neste setor com vários corais sendo criados em escolas, igrejas e empresas, estimulando a arte vocal e gerando fortes laços de companheirismo e responsabilidade grupal entre seus componentes.
Cantar em grupo é manter a mais absoluta disciplina. Salvo quando há solistas, não há individualismos no canto Coral. Todos devem primar pela perfeita sincronia entre as vozes, atendendo religiosamente às intervenções gestuais e interpretativas do Regente.
Aí, entretanto, está o nó górdio da questão: a preparação insuficiente e inadequada dos regentes, transmitindo aos incautos coralistas toda sorte de defeitos e vícios que transformam uma simples peça musical numa sucessão torturante de desencontros e desencanto. A preparação de um verdadeiro Regente Coral inclui além do domínio completo das linguagens musical e gestual, conhecimento vasto de História Geral, História da Arte, e solidez de saberes sobre estilos, técnica vocal etc. Cultura geral, portanto, é imprescindível para um convincente desempenho musical do Regente e de seu grupo, e essencial para a interpretação correta das músicas.
O Coral Jovem da Igreja Batista de Codó, MA, sob a direção de Francisco Leal foi um horror! Vociferantes, os coristas berravam desordenadamente, concorrendo ente si na desigualdade de intensidades e afinação, com vozes esganiçadas e supremamente desagradáveis. Somente a tolerância de um Deus para perdoar tal descalabro musical. Culpa da ignorância e despreparo completo do sr. regente.
O nível mudou radicalmente quando da apresentação do Madrigal Contraponto e do Coral da Assembléia de Deus , trabalhados e regidos por Jeonai Batista. Rapaz estudioso, bom instrumentista, é um dos felizes herdeiros do competentíssimo trabalho desenvolvido pelo Prof.Dr. Vladimir Silva, quando à frente do magnífico Madrigal da UFPI. Aliás, o Madrigal Contraponto é integrado por remanescentes do coral de Vladimir. Vozes bem colocadas, dinâmica correta, encantou-me ouvir a difícil "Chant des oiseaux" de Clement Jenequin. O Coral Jubilai está em bom caminho. Gostei especialmente da peça "Calma, mansa, serena", em adaptação minha, do excelente grupo Adventista "Arautos do Rei". Muito tem a melhorar o coral da própria Igreja Batista, promotora do evento.
De qualquer modo parabéns pela iniciativa. Que outros encontros aconteçam e que outros Jeonai surjam no cenário da música coral de Teresina, para a satisfação e felicidade dos ouvidos sensíveis...!

domingo, 23 de janeiro de 2011

Mário e Maria

MÁRIO MARROQUIM E A MÚSICA



Em 22 de março de 1996, em suplemento, foi publicado um caderno especial sobre a vida e obra de meu pai, Mário Marroquim, em comemoração ao centenário de seu nascimento, pelo O JORNAL, em Maceió-Al. Sendo músico, fui encarregado de escrever sobre sua atividade nesta área. Esta foi uma das múltiplas faces da vasta cultura de Mário Marroquim que, além da música, envolvia a poesia, arqueologia, antropologia, política, magistério, advocacia, filologia. Autor de "A língua do Nordeste", com prefácio de Gilberto Freire, livro ainda hoje referência para quem estuda os linguajares de nosso país, em muito enriqueceu o estudo do nosso idioma. Eis o artigo que escreví para o jornal:

Ao ouvir a pequena mas belíssima obra musical de Mário Marroquim, torna-se necessário refletir sobre as fronteiras impostas pelos críticos e pelo próprio público, divorciando a música erudita da música popular. Alguns acham que o erudito, a música de elite, deve ser vista e analisada isoladamente, pois suas estruturas formais complexas, fruto intelectual de compositores plenos de gênio, assim o exigem. É música para gostos refinados, treinados e desenvolvidos, bem diferente daquela outra, popular, simples em sua concepção, oriunda das ruas, fácil de assimilar e entender.
Formalmente, são evidentes as diferenças: uma se aprofunda tematicamente, se subdivide em muitos movimentos, utiliza rítmos e andamentos variados; a outra, geralmente monotemática com refrão, prima pela simplicidade. Nem por isso, no entanto, o belo deixa de ser expresso. Ambas traduzem estados de espírito com infinitos matizes, inspiradas em variadíssimas fontes.
Na verdade, há boa e má música, independentemente do do gênero ou época em que foi escrita. É necessário derrubar as barreiras forjadas pelos puristas, a separar os dois tipos de música.
A arte erudita se inspirou largamente nas manifestações populares e folclóricas, cortejando seus rítmos e melodias, dando-lhes roupagens, camuflando-se em suas complexidades. A valsa, por exemplo, um dos pontos fortes da obra de Mário Marroquim, surgiu a partir do "weller", dança camponesa alemã, e do "Leandler", dança tirolesa austríaca, duas manifestações notadamente populares. No entanto, no decorrer do tempo, Berlioz, Mozart, Ravel, Strauss e dezenas de outros compositores introduziram valsas instrumentais em suas obras. A valsa, no princípio dança, evoluiu para peça instrumental e, por fim, poesia e música.
No Brasil, sobretudo no II Império, a modinha, o fado, o tango, a canção, a valsa, o romance, adentraram os salões aristocráticos onde danças e jogos europeus eram cultivados. A concomitante invasão do piano, instrumento celebrizado por Liszt e Chopin, e que passou a ser, ao lado do bandolim, a prenda maior de toda moça educada e fina, tornou possível introduzir em camadas sociais mais altas, gêneros musicais de uso popular.
A música de Mário Marroquim se explica nesse universo. Compôs fados, canções, tangos, valsas, e até uma opereta. Musicou versos seus e de amigos, sempre com aguçada sensibilidade. Advogado e professor, dizia sempre que "neste País, a música não leva ao mercado", numa alusão ao sentido amadorístico que dava às suas atividades musicais. Compôs pouco, mas com profundidade e qualidade. Suas valsas para piano solo, com diversas seções, procedimento formal da época, guardam uma unidade psicológica impressionante. Há sempre uma coerência temática, uma hábil e inspirada condução melódica e harmônica. Música tecnicamente simples, mas repleta de beleza. Para voz, suas valsas se elevam ao lírico e suas frases musicais, lânguidas, sensuais até, casam-se prosodicamente com as intenções do texto, lançando-se para os agudos nos momentos de tensão, aplacando-se suaves, repousando nas calmarias do poema. Na valsa "Jardim Secreto", por exemplo, a melodia ascende quando o texto sugere estar o jardim "aclarado em fulgores tropicais", para ceder aos poucos na afirmação do poeta:"aquí esteve a mais linda das Marias...". Esta adequação da música à letra, raríssima em nosso repertório cantado, popular ou não, encontra em Mário Marroquim um exemplo de correta execução.
Mário Marroquim foi um artista preso à sua época. Não desbravou novos caminhos musicais. Repetiu, com talento e bom gosto, o que o seu tempo propôs. Fez a boa música. Possuidor de uma memória extraordinária, ouví-o, dezenas de vezes, reproduzir ao piano a trilha sonora das "fitas" a que assistira. Melodista fértil, fascinava os amigos improvisando peças inteiras a partir de três notas aleatórias sugeridas por estes.
A Música, sabe-se, não levou Mário Marroquim ao mercado, mas levou-nos a todos, sem excessão, a admirá-lo por sua arte, apenas moldura a contornar suas verdadeiras atividades profissionais, mas que o transportou à condição de grande pessoa humana que foi.

Frederico Marroquim.

Veja nos links abaixo duas valsas de Mário Marroquim.

http://www.youtube.com/watch?v=kojt49vvFTg

http://www.youtube.com/watch?v=_sRyzdgW5V4

sábado, 22 de janeiro de 2011


MEU OUTRO AMOR

Nos anos 80 surgiu Ritinha, minha esposa, mãe de Mário e Maurício, filhos queridos, e que foi (e é...) musa inspiradora de várias canções. Entre elas está Canção para Rita, com letra do saudosíssimo amigo poeta Ramsés Bahury Ramos, cujo teor escrevo à frente:

Muito tempo eu procurei
Um alguém prá chamar de amor.
E hoje eu sei que encontrei
O amor, meu amor é você...

Quanta alegria em meu coração,
Felicidade chegou, e então,
Se um dia eu lhe perder
Morrerei, ai meu Deus, solidão...

Vivo agora feliz
Com a vida que sempre sonhei.
Você é tudo o que eu quiz,
Meu amor, meu bem, meu querubim...

Escutem no link abaixo Canção para Rita, com o Duo Allegro Giusto:


DUO CAMERÍSTICO "ALLEGRO GIUSTO"

O nome do duo foi sugerido (e aceito) por uma grande pianista pernambucana, Andréia da Costa Carvalho, amiga de infancia, primeira namorada e primeiríssimo amor... Após ouvir Caio Michel Cardoso da Silva, violoncelista, participando de um quarteto de cordas em concerto na Casa da Cultura, e em sendo um apaixonado pelo timbre do Cello (que mais se aproxima da voz humana), resolvi convidá-lo para tocar comigo. E formou-se então o Duo Camerístico em 2006, que se apresentou no Teatro João Paulo II, em várias ocasiões no auditório do CEFET (hoje IFPI), além de recitais em Floriano e Picos. Com um repertório rico e variado, sempre agrada a quem o ouve. Apreciem esta peça chamada "Longe", composição minha dedicada ao primeiríssimo amor, composta no Rio de Janeiro em 1971 (há tantos janeiros...), cuja letra postarei em outra oportunidade. Fiquem com a melodia e com nosso Duo...

http://www.youtube.com/watch?v=dz4pXXWo8bo

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Orquestra de Câmera da UFPI


ORQUESTRA DE CÂMARA DA UFPI

Tive a oportunidade de assistir, em 25 de novembro de 2010, a uma interessante apresentação da Orquestra de câmera da UFPI, sob a regência do talentoso Cássio Martins, além do Coro Laetitia Spes da Faculdade Camilo Filho junto ao coro do DMA, com preparação vocal de Deborah Moraes. No repertório, um Glória do compositor Francisco Libânio Colás ( São Luis-1830/Recife- 1885) num resgate musical realizado pelo Prof. Dr. João Berchmans, e uma interessantíssima Comédia Musical "Uma véspera de Reis", com texto de Arthur Azevedo e música de Colás, num trabalho fantástico de pesquisa de João Berchmans. A orquestra, especialmente nas peças de Mozart, mostrou uma sonoridade muito boa, com uma dinâmica louvável, com contrastes de intensidade excelentes. Cássio Martins, violinista formado, tem uma regência segura e clara, gestualmente convincente, olha para o grupo, rege de cor e, acima de tudo, cuida muito bem das cordas friccionadas e suas arcadas. O grupo demonstrou unidade e em nenhum momento "cobriu" as vozes dos solistas. É gratificante saber que agora há músicos bem preparados em Teresina para conduzir e preparar nossos jovens, mostrando-lhes que fazer música está muito acima de possuir habilidade manual, ou uma boa voz. Fazer boa música é conhecer os caminhos ( e são tantos...) para uma fiel interpretação, respeitando estilos e traduzindo em sons os mais profundos estados d'alma. É, enfim, comunicação.
Parabéns à Orquestra, ao Regente, ao pesquisador e, além de todos, ao grupo de alunos que tão bem soube demonstrar o quanto apreenderam de uma orientação segura e competente!

Retorno!!!

Alô, amigos!

Reativando o Blog. Agora aposentado, restam-me tempo e disposição para escrever sobre assuntos variados, na tentativa de somar minhas experiências e vivências musicais à cultura de nossa terra e gente. Espero colaborar e receber comentários e sugestões. Obrigado.
Fred Marroquim