domingo, 20 de fevereiro de 2011

ROBERT SCHUMANN

Corria o ano de 1959.Tinha meus 13 anos de idade quando aconteceu o Concurso Internacional de piano do Rio de Janeiro. Ainda em Maceió, acompanhei-o pelo rádio (um imenso e sensacional Transglobe a pilha), aconchegado ao lado de minha mãe, grande incentivadora de meus estudos do instrumento. Ficaram-me na memória as participações de Byron Janis e, evidentemente, do grande vencedor, o húngaro Peter Frakl, então com 24 anos. A peça de confronto, obrigatória para todos os participantes, foram os Estudos Sinfônicos, Op.13 de Schumann (1810 - 1856). A magia daqueles momentos permanece intacta no fundo de minh'alma. Sem conhecimento técnico musical suficiente para análise da estrutura formal e outras coisas que saberia muito depois, deixei a música fruir em meu interior, livre de quaisquer amarras, solta dentro da pura emoção ( hoje sei que somente assim se atinge a essência da música!). A interpretação de Peter Frankl foi primorosa, e o delírio do público fez com que Arnaldo Estrela(meu futuro professor) reabrisse o piano que um funcionário do teatro já fechara , para que o pianista executasse extras. Já na década de 70, morando no Rio de Janeiro, tive a oportunidade de ouvir e conhecer de perto Peter Frankl, meu grande ídolo da adolescência. Os Estudos Sinfônicos Op.13 para piano foi dedicado por Schumann a seu amigo inglês William Sterndale Bennett. Escrita em fins de 1834 e apresentada em Viena em 1837, é obra de importancia pianística e musical excepcionais. Schumann, insatisfeito com o título, modificou-o em 1852, chamando-o de " Estudos em forma de variações para piano". O motivo principal com que se inicia a obra (motivo que Schumann julgava ser pobre musicalmente) é do Barão de Fricken, flautista amador, pai de Ernestina, por quem o compositor se apaixonara. Compor uma obra a partir de um tema composto pelo genitor de sua amada era a suprema forma de cortejá-la. A peça se desenvolve em 12 variações livres, românticas, longe do esquema composicional clássico, com um finale brilhante. Há também 5 variações póstumas, que alguns pianistas incluem em suas gravações. Schumann achava que suas variações estavam além da compreensão do público. Em março de 1838, em carta a sua nova e definitiva amada, Clara, grande pianista, escreve: "Você fez bem em não tocar os Estudos Sinfônicos em concerto: eu não os escreví para o grande público e seria absurdo ele aceitar e querer o que não compreende. Se, um dia, o público, delirante, quebrar a cabeça contra as paredes de tanta admiração depois de você os ter tocado, isto será para mim motivo de grande alegria...os compositores, veja você, são cheios de vaidades, mesmo quando não têm razão para tê-las..." Schumann enganou-se. Os Estudos Sinfônicos são hoje uma das mais queridas e ouvidas obras do repertório pianístico !

No link abaixo, ouça o tema principal que deu origem às variações:

domingo, 13 de fevereiro de 2011

NONATO LUIZ: UM VIOLÃO DE SONHOS!

Nonato e Mário Sérgio


Sou suspeito para falar sobre Nonato Luíz. Conheço-o desde a década de 70, em Fortaleza, e passamos inesquecíveis momentos musicais em minha casa, sempre regados a uma boa cachaça.
Em 1977 fomos a Campos de Jordão, durante a realização do Festival de Verão (atualmente em sua 41ª edição) onde, sob a direção de Dr. Hugh Ross e Eleazar de Carvalho e OSESP, fizemos parte do coro que apresentou a 9ª de Beethoven. Na ocasião, conheceu Turíbio Santos. Ouví-o, portanto, centenas de vezes, e participei da elaboração da partitura de uma de suas peças musicais, "La concordanza", em parceria com o grande músico cearense Tarcísio José de Lima.
É difícil falar sobre Nonato Luíz. O violão, ao tocar, passa a ser parte integrante de seu corpo. Um imenso prazer de tocar estampa-se no permanente sorriso que paira em seu rosto, iluminando o ambiente e ouvintes com uma aura que transmite paz, segurança técnica absoluta e uma sonoridade soberba. Cada corda, em Nonato Luiz, tem vida própria. A melodia perpassa entre elas, sempre evidente e clara. Jamais os riquíssimos acordes sufocam-na. A música de Nonato Luiz remete à renascença. Seus temas são repetidos sempre com uma roupajem nova e dinâmica. A forma de construçao musical - A B A - torna-a de fácil assimilação. A sonoridade de seu violão é variada, passando de sons metálicos aos velados sempre de maneira equilibrada e progressiva. Seus incríveis arranjos de nossa MPB e, especialmente, os de temática nordestina, quando evidencia o modalismo medieval além de outras características melódicas próprias de nossa música , são prova incontestável de que sua arte é como sensível antena a captar ecos de um passado longínquo mas ainda fortemente presente na alma de nossa gente.
Ouvir a música de Nonato Luiz é sentir a alegria de viver de um grande músico que faz de seu instrumento o seu principal veículo de comunicação. Ouvir Nonato Luiz é vivenciar emoções profundas e variadas, inesquecíveis em seu conteúdo. É, acima de tudo, aprofundar a crença na grandeza da Arte e da criação humanas.

Confira no link abaixo, um exemplo da arte de Nonato Luiz.